Processos na relação Familiar
AUTOR : Pr. Roberto Rohregger
Bacharel em Teologia
Especialista em Psicoteologia e Bioética
Especializando em Teologia do Novo Testamento Aplicado
1- CONCEITO DE FAMÍLIA
Uma prevê pesquisa em compêndios e na internet nos possibilita uma gama de definições do que vem a ser família, algumas extremamente sintéticas:
Família (Antropologia).Instituição formada pelo conjunto de pessoas unidas por laços sangüíneos e por meio da qual se consegue a integração social. - Enciclopédia Britânica do Brasil
Outras um pouco mais abrangentes:
Família (sociologia), grupo social básico criado por vínculos de parentesco ou matrimônio presente em todas as sociedades. A família proporciona a seus membros proteção, companhia, segurança e sociabilização. A estrutura e o papel da família variam segundo a sociedade. A família nuclear (dois adultos com filhos) é a unidade principal das sociedades mais avançadas. Na família monoparental os filhos vivem só com o pai ou só com a mãe em situação de celibato, viuvez ou divórcio. - Enciclopédia Encarta.
E podemos apresentar até o clichê muito usado para definir família : “A célula mater da sociedade.”
Abrangentes, ou mais sintéticos, desgastados pelo uso como clichê para várias situações e em alguns momentos vazio de sentido, a família é e deverá continuar sendo uma das nossas grandes preocupações e objeto de nossa reflexão contínua. Visto por este ângulo concordo com a definição apresentada no texto Família e relacionamento de gerações [1]:
“A família é um sistema complexo de relações, onde seus membros compartilham um mesmo contexto social de pertencimento. A família é o lugar do reconhecimento da diferença, do aprendizado de unir-se e separar-se, a sede das primeiras trocas afetivo-emocionais, da construção da identidade. É a matriz: na família nascemos, na família morremos!
É um sistema em constante transformação, por fatores internos à sua história e ciclo de vida em interação com as mudanças sociais. Sua história percorre a dialética continuidade/ mudança, entre vínculos de pertencimento e necessidade de individuação. É no cenário familiar que aprendemos a nos definir como diferentes e enfrentar os conflitos de crescimento.
Falar de família é também falar de mito, memória, transmissão.”
Família é este complexo sistema de relacionamentos, de afetividades, de formação e infelizmente em alguns casos também de “deformação” é o lugar das nossas memórias básicas, onde também habita nosso inconsciente.
Penso que a família sempre vai existir, podem mudar talvez o formato, mas o ser humano necessita deste ambiente que é criado por aqueles que se dizem família, sem o qual não conseguiríamos nos desenvolver e talvez sequer viver.É na família que se formam as primeiras experiências afetivas e de socialização, sejam para o bem ou não, mas é ali que elas surgem.
2- PROCESSOS NA RELAÇÃO DO GRUPO FAMILIAR
A família se reproduz se divide e ao mesmo tempo se funde. Nesse processo de interação a família se modifica no tempo, há períodos previsíveis, de estabilidade e transição, de equilíbrio e adaptação; e por momentos de desequilíbrio que alavanca o estágio novo e mais complexo, onde se desenvolvem novas funções e capacidades.[2]
A família passa por estágios que podem ser divididos da seguinte forma:
casamento, nascimento dos filhos, educação dos filhos, saída dos filhos do lar, aposentadoria.
Estes momentos na vida familiar apresentam situações de equilíbrio e desequilíbrio, marcados por eventos que apresentam significados marcantes no processo do relacionamento do grupo familiar. Além destes eventos significativos e que poderíamos dizer que esperados, a família pode passar por processos imprevisíveis que lhe causam impactos profundos, tais como divórcio, morte inesperada, desemprego, doenças, entre outros.
Porém estas situações inesperadas possibilitam uma contribuição para o processo de relacionamento familiar, uma reorganização da estrutura familiar abre possibilidades para o diálogo e a compreensão, construindo uma nova cultura familiar.
Estes processos que estão presentes na vida familiar, ajudam a formá-la, bem como as experiências e cultura da família anterior, afinal cada nova família é formada de duas anteriores, como nos diz Sergio Garbati Gorestin[3]
“Cada membro da família "fulano" tem uma maneira de ser que foi influenciada pelas maneiras e personalidades de seus familiares, mas além disso, a família "fulano" como um todo possui um modo de ser e por esse modo é reconhecida através das gerações. Mas é importante lembrar que cada família atual foi formada pelo encontro das duas famílias de origem daqueles que se casaram e estão formando o núcleo atual.
Portanto, somos influenciados pela família que formamos com nossos pais, mas também pelas duas famílias de origem que formaram nossa mãe e nosso pai.”
Ao formarmos nova família esta já está impregnada com as famílias anteriores, por mais que achemos, ou quiséssemos, que não. Interiorizamos nossas relações familiares, cultura familiar que por vezes podem entrar em choque com a cultura familiar que o outro traz, o que deve ser mediado e resolvido, talvez em uma nova cultura, esta nova construção se dá mediante a adesão ao mito das famílias originais, como o relacionamento, valores, papéis e funções.
3- INDENTIFICAR AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO DE AJUDA SOBRE ESSA CONDIÇÃO DE GRUPOS FAMILIARES OU NÃO.
Entendo que a formação de grupos familiares, onde as principais questões que afligem a família possam ser tratadas de forma clara e transparente é de grande ajuda para o tratamento destas situações.
O desenvolvimento de grupos familiares onde o ouvir e o partilhar tem uma função terapêutica de auto avaliação possibilita um melhor entendimento das situações características partilhadas por famílias e dos seus ponto de vista, gerando muitas vezes novos enfoques e direcionamento.
Em nossa comunidade desenvolvemos um encontro semanal com casais[4] onde os temas relacionados à família são tratados através de palestras e depois aberto aos participantes para que possam contribuir com suas experiências e trazer a tona suas dúvidas.
Percebemos que este modelo de interação entre as pessoas e a discussão com relação aos pontos principais que atualmente representam desafios para a família e uma possibilidade de encontrarmos saídas é reflexão da situação em nossa família, mas também compartilhando o conhecimento, opiniões e soluções de outras famílias. É sabendo como outras famílias passaram por seus momentos de crises e como saíram delas que pode preparar-nos para quando formos confrontados com problemas parecidos.
Se já fazemos uma reflexão prévia, isto pode ajudar-nos a passar com mais facilidades por momentos turbulentos.
Desta forma acredito que o trabalho em grupos familiares ser de um auxílio extremamente salutar e bem vindo, onde não há o simples impor de idéias ou comportamento mas uma troca de sabedorias.
[1] Família e Relacionamento de Gerações : Tai Castilho; Congresso Internacional Co-Educação de Gerações ; SESC São Paulo - outubro 2003 [2] Família e Relacionamento de Gerações : Tai Castilho; Congresso Internacional Co-Educação de Gerações ; SESC São Paulo - outubro 2003 [3] http://www.sergiogarbati.com/textos/texto_da_semana-entendendofamilias%20n12.htm
[4] http://casaisemcristo.weebly.com/index.html